RUPTURA DO INVISÍVEL
SÉRGIO ADRIANO H
CURADORIA DE FABIANA LOPES
ESPAÇO EXTERNO | 21 E 22 DE NOVEMBRO DE 2018
A exposição reúne registros fotográficos de duas ações realizadas pelo artista em estúdio durante 2013, nas quais Sérgio pinta o próprio rosto de branco e chora lágrimas pretas e, em seguida, pinta o rosto de preto e chora lágrimas brancas. As obras compõem as séries Preto de Alma Branca e Branco de Alma Preta que tratam do embraquecimento cultural. Com estas obras expostas no muro externo da Casa, o artista estabelece diálogos com o público chamando a atenção para questões sociais e culturais que decorrem desse processo. Sérgio Adriano H é catarinense, mestre em filosofia, artista visual, performer e pesquisador.
APRESENTAÇÃO
Com trabalhos em fotografia mas predominantemente ancorados em performance, a prática do artista catarinense Sergio Adriano H propõe discussões sobre temas existenciais pensados dentro do sistema simbólico que chamamos “verdade”. Essas discussões que vão desde questões sobre a morte a questões sobre identidade racial e a posição do sujeito negro dentro do tecido social brasileiro, ou mais especificamente nas comunidades pelas quais o artista transita. É a partir dessas preocupações nucleares que Sergio Adriano H parece fazer seus experimentos.
Num trabalho entitulado O visível do invisível , o artista desenvolveu uma séria de 12 fotografias de seu rosto ora pintado de branco ora pintado de preto. A série provoca algumas questões relevantes: O que a imagem de um corpo negro pintado de branco (ou de preto) evoca em nosso imaginário? Como essas imagens nos conectam com a história do país e seus resquícios no presente?
Como elas abrem caminho para o território do invisível, um território do indizível, de silêncios inexplorados? Impressas em tamanho grande (80cm X 120 cm), essas fotografias são guardadas e transportadas num case de tamanho proporcional. E é a partir desse momento que o trabalho de Adriano H fica mais intrigante. Inspirado na prática dos vendedores ambulantes, o artista escolhe expor a obra em lugares públicos de grande circulação de pessoas e com resquícios históricos relevantes: o chão da praça central da cidade e antigo site ocupado por um quilombo; o chão do espaço em frente ao museu ou a outra instituição cultural, são alguns exemplos. Vestido de terno e gravata, Adriano H carrega (ou arrasta) o case de fotografias pela cidade, parando nos espaços escolhidos. Em cada um deles, o artista também permanece presente e disponível durante o período da mostra para conversar com os visitantes sobre o trabalho e as possíveis questões que ele venha provocar.
No trabalho presente, A ruptura do invisível, Adriano H emprega água sanitária, produto comumente usado em branqueamento de tecidos, para fazer intervenções nas fotografias da série O visível do invisível. O resultado são distorções na superfície da impressão fotográfica o que também distorce ou (inter)rompe a nossa recepção e percepção das imagens. Seguindo os mesmos passos ambulantes do trabalho anterior, a série é carregada e apresentada em diferentes espaços públicos da cidade e nos convida a um questionamento adicional: além da ruptura literal feita na superfície das fotografias, em quais outros tipos de ruptura ela nos leva a pensar?
Mas existe ainda uma pergunta final que é deixada no ar: A ruptura do invisível que você está visitando agora é uma exposição ou uma outra performance?
Fabiana Lopes | Curadora