ABLUÇÕES
CÉLIO BRAGA
CURADORIA DE HÉRCULES GOULART MARTINS
ESPAÇO 2 | 01 DE MARÇO A 28 DE ABRIL DE 2016
Realizada em parceria com o Museu Victor Meirelles durante o fechamento da Instituição para sua revitalização, Abluções apresenta no Brasil o artista mineiro que reside e produz em Amsterdã. Com uma sólida carreira no exterior e com obras integrando coleções de importantes museus europeus, Célio ainda não desfruta da mesma repercussão no seu país de origem. As séries apresentadas exploram um corpo físico-afetivo-simbólico, reiteradamente construído a partir de imagens intimas e objetos pessoais cedidos por amigos. Registros em close da pele são visceralmente escarificadas, perfuradas, costuradas, desvendando diversas camadas dessas peles, tanto humanas quanto da própria fotografia. Peças de roupas usadas, juntamente com pelos e vestígios humanos são minunciosamente costuradas e bordadas até se transformarem em um objeto sólido incomum. Amálgamas de ex-votos instauram novos sistemas organogênicos. Milhares de bulas de remédios suturam uma imensa cortina atestando a fragilidade do corpo no espanto da epidemia do século. Processos singulares, fatura primorosa, delicadeza e riqueza de detalhes provocam e guiam o expectador por infindáveis narrativas sobre a material idade da existência.
APRESENTAÇÃO
Sem titulo, 2015. Perfurações em impressão, 25x35cm. Fonte: Célio Braga. Em sua exposição individual Abluções, o artista mineiro Célio Braga reúne, em uma instalação, um conjunto de obras relativas a distintos estágios de sua produção. É a primeira vez que elas são exibidas no Brasil, ao contrário
do que acontece na Europa e nos Estados Unidos, onde, além de serem mostradas continuamente, também integram a coleção permanente de várias instituições, como a do Museu Stedelijk, em Amsterdã.
Não se trata aqui de uma retrospectiva, e sim da apresentação de um número de trabalhos que assinalam cinco fases e direções significativas no percurso do artista, durante as duas últimas décadas.
Sua trajetória é marcada pela habilidade de redefinir a expandir fluidamente categorias convencionais como a fotografia e a escultura, entre outras. Os suportes empregados são levados ao limite e mais além, mediante sucessivas experimentações e o uso de materiais e técnicas artesanais inusitados.
Conceitualmente, seu interesse é pautado pelos seguintes tópicos: a fragilidade do corpo, a cura, a passagem irrevogável do tempo, a memória, a natureza definitiva da morte, o luto e a sexualidade.
A ambiguidade sexual muitas vezes presente na obra do artista, em suas formas e componentes, erode e desafia as pretensas representações hegemônicas de gênero e as concepções dominantes de sexualidade. Deste modo, nos oferece uma perspectiva mais híbrida, fluída e polissêmica.
Com uma carga altamente simbólica, os trabalhos apresentados operam como uma narrativa multidimensional, proporcionando ao público múltiplas leituras e estados de fruição. A orquestração espacial das obras, bem como o ato de caminhar entre elas, suplementam-se. Essas, em virtude da delicadeza e da riqueza de detalhes, requerem uma relação mais intimista e de proximidade. É a partir da locomoção do visitante que distintas imagens e objetos passam a configurar um espaço narrativo e afetivo, revelando, assim, interrelações complementares e infindáveis associações.
Hércules Goulart Martins | Curador