TEMAS PARA UMA REALIDADE
RODRIGO CUNHA
ESPAÇO FERNANDO BECK | 13 DE MARÇO A 23 DE MAIO DE 2008
APRESENTAÇÃO
Exposição Temas para uma realidade, de Rodrigo Cunha. Na contramão da tendência predominante nos artistas de sua geração que de modo geral elegem suportes e mídias não usuais, Rodrigo Cunha escolheu como meio de expressão a tradicional pintura de cavalete. Suas obras são transposições oníricas da realidade.
Utilizando os discretos efeitos de luz das meias-tintas Rodrigo elabora trabalhos que surgem como visões provenientes de sonhos ou pesadelos.
Em uma atmosfera de ilimitada melancolia, figuras solitárias pairam em ambientes delimitados espacialmente por uma sóbria geometria.
Nesta arquitetura de caixas-cubículos, pequenas aberturas deixam entrever detalhes de outros aposentos igualmente frios e exíguos.
Por vezes a perspectiva é distorcida de forma a criar a sensação visual de um espaço circular captado por uma lente grande angular.
De modo geral as figuras destes personagens sem história nem rosto aparecem sentadas no canto de imensos sofás ou simplesmente de pé com mãos e braços rentes ao corpo perplexas por algum indecifrável enigma.
Na visionária estrutura espacial destes interiores é como se a invisível gaiola da exacerbada individualidade de nossos tempos não tornasse mais qualquer comunicação possível.
Neste inquietante clima é como se tudo, seres e objetos, pairasse em um vácuo iluminado por uma luz fria e distante proveniente de uma fonte invisível.
Intencionalmente ou não Rodrigo coloca-nos frente a personagens cujo clima existencial remete ao pensamento de Nietzsche e Schoppenhauer, que nos ensina sobre a profunda significação do nenhum sentido da vida.
Pode parecer paradoxal, mas é o vazio terrível expresso nestas obras que nos desvela a verdadeira beleza imperturbada e despida de alma e matéria.
E é justamente ao dar ao vazio uma expressão artística que Rodrigo Cunha penetra no âmago mesmo do dilema do homem contemporâneo permitindo ao espectador refletir e participar desta tensa e enigmática atmosfera que alimenta a própria essência de sua criação.
João Otávio Neves Filho – Janga