NADA É IMAGEM, NADA É MIRAGEM
MARIA BAPTISTA
ESPAÇO 2 | 26 DE OUTUBRO A 23 DE NOVEMBRO DE 2017
Mais do que representar uma paisagem, a artista a recria e a transpassa. As obras apresentadas emergem da necessidade que sente em revelar a epifania vivenciada em 2014 quando visita a Chapada Diamantina (BA) e Campos Gerais (PR), envolvida em um outro projeto artístico. As sensações provocadas pelo abismo, silêncio e natureza em estado bruto transcendem conceitos e dão início ao seu processo de amalgamar elementos que a auxiliem a expressar um sentimento possível. Assim, vai acumulando expressões, imagens, poesia, música, objetos retirados da cena. Do entrecruzamento da imagem e palavra, da reorganização da fatura, da experimentação de transpor o cenário da natureza para a galeria, emerge sua reflexão poética à beira do abismo e imersa nas paisagens planálticas. Maria Baptista é graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Paraná, estudou escultura na Escola de Belas Artes do Paraná e especialização em Poéticas Visuais pela mesma Instituição. Atualmente vive em Curitiba/PR.
APRESENTAÇÃO
Vestígios (detalhe), 2014-2016. Caixa de acrílico com caderno, frascos de vidro, pau-santo, slides e pedra ametista, em aparador de madeira antigo. Nada é Imagem, Nada é Miragem é resultado de expedições de Maria Baptista às regiões da Chapada Diamantina, na Bahia, e nos Campos Gerais, no Paraná, entre os anos de 2014 a 2016.
Em três obras concisas, a artista nos apresenta, não somente imagens de contemplação estética dos elementos da natureza, mas registros de um percurso em que ela é regente e também regida pela paisagem e sua criação artística é resultado da reflexão teórica dessas experiências vivenciadas.
Um processo de inversão digital torna azulada a imagem captada na região do Cânion Guartelá, nos Campos Gerais e parece registrar um tempo longínquo. O cenário rochoso agora remete ao fundo do mar, que cobriu aquela região há milhões de anos; Um pequeno aparador traz uma pedra semipreciosa da Chapada Diamantina e uma caixa de acrílico fechada, numa sugestão de mistério. Dentro dela, flores secas dos Campos Gerais, um frasco de vidro do Arroio Pedregulho, pau santo, slides com registro de performance realizada nas margens do Cânion Guartelá e um caderno de viagem contendo relatos dos locais visitados; Um audiovisual com pouco mais de 23 minutos mostra imagens dos Campos Gerais, acompanhadas de trilha musical composta pelo músico Ühmas e do poema ¨Os Poros Flóridos¨, de Josely Vianna Baptista, que é lido pausadamente pela artista. Nesse diálogo, sem preocupação explicativa, entre as imagens e o poema, a artista busca uma aproximação da experiência original do momento vivido naquele local, naquele instante.
O espectador é convidado a se deslocar para aquele espaço enigmático, mas para isso um silêncio interior litúrgico se faz necessário. Só assim poderemos, como Maria Baptista, ouvir o murmúrio das águas e sentir o gosto do vento.
Em frente ao abismo, a artista se entrega com êxito ao silente rocio do encantamento.
Fabrício Tomazi Peixoto