OUTRA NOITE NO HOTEL
FABIANA WIELEWICKI
ESPAÇO FERNANDO BECK | DE 17 DE MAIO A 21 DE JUNHO DE 2018
A artista pensa o espaço do hotel como um lugar físico e ficcional ao mesmo tempo repleto de histórias, estabelecendo relações com imagens cinematográficas, criando uma atmosfera de mistério e fantasmagoria. Dois projetos integram a exposição: Grande Hotel e Hotel Miradouro, com séries de fotografias e vídeos desenvolvidos entre 2012 e 2017, quando a artista se hospedou em vários hotéis brasileiros, muito similares entre si, e no Hotel Miradouro em Portugal, que se assemelha a um cenário cinematográfico. Fabiana Wielewicki é artista visual brasileira, doutora pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, cidade em que vive e trabalha.
APRESENTAÇÃO
Still Blank 2, Projeto Hotel Miradouro, 2015. Fotografia, 75x55cm. Outra noite no hotel conjuga fragmentos de narrativas cinematográficas e o espaço do hotel entendido como local físico e ficcionado. O universo do cinema e a sensação ambivalente de reconhecimento e estranheza experimentada nestes espaços convergem aqui numa pesquisa pautada pelo tensionamento entre imagem e lugar, ativando conexões ficcionais com a dimensão do misterioso e do fantasmagórico.
Meu interesse pelo imaginário do hotel surge na produção do projeto Grande Hotel (2009-2012) cujo corpo de trabalhos estrutura-se a partir da soma de registros de diferentes hotéis por onde estive, embora pareça reafirmar sempre o mesmo lugar cliché. O componente ficcional do projeto Grande Hotel encontrou rebatimento em um local visitado em 2013: o Hotel Miradouro (Porto, Portugal). Situado em um edifício dos anos 1960, possui janelas panorâmicas e conserva ainda o mobiliário original da época. O estabelecimento parece estar à margem dos rankings do setor hoteleiro e turismo comercial, avesso a contorcionismos nostálgicos ou a uma padronização intemporal. Instaura uma lógica própria de funcionamento, um tipo de resistência, que escapa aos padrões de classificação. Suas instalações conjugam solenidade e decadência, aludindo a um tempo indefinível, próximo da experiência fílmica. Foi a proximidade com o cinema que deu origem ao projeto Hotel Miradouro.
As projeções assumiram protagonismo ao longo da produção do projeto Hotel Miradouro, evidenciando a relação entre as cortinas do quarto e a ideia de tela (cinema). Porém, quando o processo de projetar filmes exaustivamente é substituído por uma projeção em branco, a superfície da tela deixa de ser o espaço da ficção, revelando o próprio lugar como ficção. A série Still Blank sugere um espaço de espera (ou vazio), reforçando um desejo ficcional que enfoca o lugar: é o próprio hotel que aparece iluminado no centro da projeção, e não uma narrativa exterior a ele sobreposta.
Fabiana Wielewicki