SETOR TERCIÁRIO
BRUNO STORNI E RENATO MARETTI
CURADORIA DE GABI BRESOLA
ESPAÇO 2 | 15 DE SETEMBRO A 20 DE OUTUBRO DE 2016
Apropriando-se de materiais usados em trabalho por terceirizados, a exposição aborda movimentos da história da arte representando em seu conteúdo o empobrecimento de uma sociedade guiada pelo acúmulo de posse e organizada em setores estabelecidos em todas as ordens sociais, reconfiguradas no Brasil dos últimos anos. Bruno Storni e Renato Maretti são formados em Artes Plásticas pela Fundação Armando Alvares Penteado, com atuação em São Paulo/SP.
APRESENTAÇÃO
Panos, Renato Maretti, 2015. Tinta óleo sobre tela, 38x30cm, 22x25cm e 19x26cm. Fatura Têxtil, Bruno Storni, 2013. Cobertor sobre tela, 165x100cm. Objetos e materiais cotidianos de limpeza e higiene, em ‘Setor Terciário’, aparecem como elementos estéticos, suportes e como o próprio trabalho.
Um livro totalmente amarelo, para ser visto/lido com luvas de limpeza amarelas em um desvio para o amarelo, citando Cildo Meirelles. Um simulacro de espelho plástico e copos hiperrealistas se apresentam como reais, ao nos aproximarmos, os objetos se revelam como ilusões.
O espectador não se vê no espelho de tela branca. Uma escultura em forma de pirâmide é feita de gelo falso, que assim como a divisão de classes no real só se propõe a horizontalidade, mas permanece como promessa. Uma paisagem fria, uma natureza morta com textura e camadas de cores com pano de limpeza e cobertor de mendigo.
Outras duas paisagens, uma de palavras, de sacos de lixos pretos e azuis, tríade de colagem das paisagens do que é passado. O homem branco perde a identidade com papéis higiênicos que cobrem seu rosto e sua cara. Durante a
exposição dos trabalhos, os artistas se colocam como performers, se colocam na mesma condição dos materiais, como agentes responsáveis em realizar o serviços que ninguém que fazer.
Todos os trabalhos tocam o cotidiano das pessoas comuns e principalmente as que são do ‘setor terciário’. Como na arte povera a fatura está ligada a matéria pobre e descartável, indicando as relações entre os materiais de limpeza e o pensamento artístico sobre esses materiais no meio real.
O gesto dos artistas em transportar e organizar esses objetos destes modos coloca em discussão outros modos de pensar a pintura e a instalação. No caso de ‘Panos’ e ‘Desvio para o amarelo’, de pensar também o ready made, desprezando as noções comuns à arte e à pintura histórica como estilo ou manufatura do objeto de arte e se refere primariamente à ideia e sua utilidade.
‘Setor terciário’ permite pensar na fatura e no conteúdo, pois provoca movimentos e categorias da história da arte de maneira contemporânea, considerando os materiais domésticos que representam sua crítica ao empobrecimento de uma sociedade guiada pelo acúmulo de posse e organizada em setores estabelecidos em todas as ordens sociais.
Gabi Bresola | Curadora