TRAGO A MODERNIDADE
DARÍO MELÉNDEZ • EDUARDO ACOSTA • GONZALO AGUIRRE • ISADORA STÄHELIN • KARLA HAMILTON • PABLO ZAFRA • PAULINA PULIDO • PAVEL FERRER • PERLA RAMOS • SERGIO ZAMORA • SOFIA BRITO
CURADORIA DE PERLA RAMOS E SERGIO ZAMORA
ESPAÇO FERNADO BECK | 05 DE MARÇO A 13 DE JUNHO DE 2020
Com texto de apresentação de John Lundberg, curadoria de Perla Ramos e Sergio Zamora e produção de Isadora Stähelin, Trago a Modernidade abre em 5 de março de 2020, permanecendo à portas fechadas a partir de 18 de março, em razão do fenômeno da pandemia que determinou o fechamento de espaços expositivos em várias partes do mundo. A Coletiva, selecionada pelo Edital 2019, é composta de trabalhos de 11 artistas do Brasil, México e Chile, entre vídeos, fotografias, animação, retroprojeção, esculturas, apropriação de objetos e notícias. A mostra aborda percepções sobre o entorno e as ruínas de um presente em crise e processos relacionados a um futuro incerto, cuja esperança é o modo de sobrevivência e a nostalgia é o que fica. Nos trabalhos são mostrados também os desgastes da matéria orgânica diante da contemplação sobre o tempo e das falhas sociais e de infraestrutura no território mexicano, além de apresentar uma noção de autoconstrução e a capacidade dos seres humanos de gerar espaço íntimo e também a ideia do apagamento da utopia modernista a partir de críticas relacionadas a seus modelos de construção.
APRESENTAÇÃO
A rachadura na rua e a fachada monolítica de um edifício sem terminar, ou já em ruínas, são monumentos de uma sombra do futuro, que imaginamos brilhando utopicamente como satisfação absoluta. O respiro depois de terminar um árduo trabalho, uma chegada messiânica.
E se a promessa não se cumpre, o futuro ainda não chegou? Seguimos com esperança, a única coisa que sabemos que irá sobreviver; a nostalgia, nosso legado.
Dentro da abstração do poder das instituições, os bonecos de papel, que são nossos políticos, já não possuem planos além de seguir em um presente que devora o passado e estrangula o futuro.
Vivemos em frases pré-fabricadas, um mar de cópias sem origem, cada pensamento, um eco. Isso o que vives, insistem, isso (sentes o sabor oxidado nos cantos da boca?) é tudo o que existe, tudo o que poderia existir. De que maneira podemos nos desdobrar para escapar?
A arte aqui, em pedra ou luzes em uma tela, não promete oferecer nada. O reflexo que buscamos só reafirma o que já acreditamos saber – a ilusão de estabilidade. Nada nunca nos é suficientemente insuficiente. Nosso Apocalipse é lento e mudo.
John Lundberg
Habitante
Dario Melendez
Técnica: Pintura
Dimensões: 30 x 30 cm
Material: Acrílica sobre tela
Ano: 2016
Ao longo da meu processo artístico, tenho me interessado pelos processos de desgaste da matéria orgânica, que em termos mais abstratos poderia enunciar-se como uma longa contemplação sobre o tempo e suas consequências. Neste caso, mais que mostrar os estragos do tempo, me interessam os agentes. Por isso, o interesse pela rata como encarnação da temporalidade e da degradação nos entornos urbanos. Ao invés de abordá-la, a partir da clássica visão desprezada, esta peça é uma homenagem à estes pequenos habitantes urbanos.
Promesas de progreso
Eduardo Acosta
Técnica: Apropriação
Dimensões: Tamanho adaptável à tela
Material: Página do instagram exibida em TV
Ano: 2018
A peça situa-se dentro de um perfil ou tabuleiro do Instagram, adotando/apropriando imagens que circulam na internet sobre falhas sociais e de infraestrutura no território mexicano – cuja premissa foi o bem-estar e o progresso, que nunca chegaram, ou chegaram de forma incompleta -, ressignificando as imagens por meio de hashtags e brincando com uma economia das imagens.
Maestro Triste
Gonzalo Aguirre
Técnica: Animação
Dimensões: Tamanho adaptável à tela LED
Duração: 01:00 min (loop)
Material: Vídeo HD c/ aúdio estéreo exibido em TV LED 50
Ano: 2017
Vídeo animação realizada mediante rotoscopia. Um trabalhador de rosto triste, golpeia com um martelo o solo, sem cessar. Possui roupa de marca reconhecida e sapatos de futebol. Objeto-fato 0
Isadora Stähelin
Técnica: Fotografia
Dimensões: 50 cm x 2,30
Material: Fotografias sobre pvc
Ano: 2017
Três frames ampliados de um vídeo que registra, durante dois meses, o encontro com um sofá abandonado, em decomposição, na orla do bairro Praia Comprida, SC – Brasil. Bunker
Karla Hamilton
Técnica: Fotografia
Dimensões: 60 x 60 x 2 cm
Material: Fotografias sobre pvc
Ano: 2018
O trabalho explora a noção de autoconstrução e a capacidade que temos os seres humanos de gerar espaço íntimo, em relação ao sentido de alienação que constrói o nosso tempo. Assim, algumas estratégias conceituais que tenho empregado possuem relação com a arquitetura, o deslocamento e a possibilidade que temos de gerar imagens como ato de resistência.
Van Obras
Pablo Zafra
Técnica: Fototransferência
Dimensões: 50 x 45 cm
Materiais: Fotografia sobre pvc
Ano: 2018
Esta obra apresenta algumas imagens sobre concreto da antiga Torre de Banobras do arquiteto Mario Pani, na Unidade Habitacional Tlatelolco na Cidade do México. Representa um símbolo da modernidade dos anos 60 em México, que ficou em estado de abandono.
Demolición/progreso
Paulina Pulido
Técnica: Ilustração impressa em acetato
Dimensões: 21.59 x 27.94 cm cada
Materiais: 9 impressões em acetatos projetados na parede
Ano: 2018
As unidades habitacionais construídas na metade do século XX na Cidade do México são símbolos da arquitetura moderna, inspiradas na arquitetura funcionalista e no conceito de superquadras do arquiteto Le Corbusier. Os multifamiliares como Tlatelolco, Centro Urbano Miguel Alemán e o Centro Urbano Benito Juárez representam uma das amostras mais evidentes do idílio da modernidade no México, projetadas pelo arquiteto Mario Pani, como símbolos de progresso e vanguarda. Ao longo do tempo, este sonho foi se desvanecendo com o colapso e posteriormente, demolição da maior parte do Centro Urbano Benito Juárez e alguns edifícios do conjunto habitacional Tlatelolco, assim como o deterioramento de outras unidades habitacionais. Dessa maneira, Demolição/Progresso retoma a ideia do apagamento da utopia modernista mexicana na Cidade do México através de uma série de imagens que refletem o progressivo desaparecimento do modelo modernista materializado em sua arquitetura.
Les traigo la modernidad
Pavel Ferrer
Técnica: Esculturas
Dimensões: 13 x 14, 5 x 14 cm / 20 x 8,5 x 16 cm / 21 x 10 x 7cm.
Material: Concreto, plástico e válvula sobre bases de ferro.
Ano: 2018
Além da ordem, felicidade, paz e progresso, a maior das promessas da modernidade consiste em maior liberdade e maior segurança. O problema é que não se pode conseguir ambas de uma vez. O engano está em acreditar possível a liberdade como igualdade e a segurança física, laboral e juridicopolítico como conquistas simultâneas da modernidade. O progresso é um pêndulo que oscila entre a segurança e a liberdade; e uma se impõe pelo preço da outra.
El patrimonio pesa
Perla Ramos
Técnica: Apropriação
Dimensões: 12.8 x 24 x 14 cm
Material: Pedra patrimonial pintada
Ano: 2017
Dizem que o índio Cantuña teve que construir a igreja São Francisco, mas ao aproximar-se do prazo estipulado e ver que a construção ainda não estava pronta, Cantuña em seu desespero, optou por fazer um acordo com o diabo: terminar a construção da Igreja em troca da sua alma. Desta maneira, a construção parecia chegar ao fim exitosamente, mas Cantuña arrependido, decidiu roubar uma pedra pensando que assim, o diabo não poderia tirar sua alma, já que era impossível comprovar que a igreja estava finalizada se faltava uma pedra. Como Cantuña, decidi roubar uma pedra patrimonial da calçada da Praça de São Francisco para realizar uma série de ações sobre o objeto: nomear, pesar e percorrer. Diante da impossibilidade de voar e chegar ao Brasil a pedra nomeada “El patrimonio pesa” aparece outra que toma o seu lugar. Proveniente da Praia do Sonho, no Oceano Atlântico, a pedra foi nomeada da mesma maneira para fazer parte da exposição “Trago a modernidade”, gerida por Isadora Stähelin. O patrimônio pesa também na praia e se funde no mar.
1 / 3 de la Historia
Sergio Zamora
Técnica: Arte objeto
Dimensões: 12 x 52 x 22cm
Materiais: Livros
Ano: 2018
Os livros que usamos em nossa formação respondem à distintos olhares: historiadores, filósofos, pesquisadores, artistas, etc. Estes, escrevem os textos com formulações que respondem à inquietudes pessoais, e cabe a nós a decisão de saber onde nos circunscrevemos. Por exemplo, a história da arte que podemos aprender a partir de diferentes posturas: a imagem e a iconografia de Aby Warburg, Gombrich ou Panofsky. Cada um deles, em seu contexto e sua forma de ver o mundo implantaram uma visão da arte que pode ser considerada por alguns e, por outros não. Desta maneira, 1/3 de la Historia, retoma essa ideia, como referência historiográfica para abordar o tema da crítica institucional a partir de uma série de objetos artísticos (Enciclopédias), modificando sua função e mostrando apenas uma parte do conteúdo do livro. One Million TEU
Sofia Brito
Técnica: Vídeo
Dimensões: aprox. 3m de largura
Duração: 2’00”
Materiais: vídeoprojeção sobre parede
Ano: 2018
Registro da disputa territorial no cotidiano do complexo portuário de Itajaí e Navegantes/SC, que transporta anualmente cerca de um milhão de TEU (unidade internacional de contêineres navais).