“ReverberAção”, de Nei Xakriabá apresenta moringas zoomórficas que narram memórias, lutas e a cosmovisão do seu povo; com curadoria de Betânia Silveira, exposição abre na quinta, 28 de agosto, na Fundação Cultural Badesc, em Florianópolis
A Fundação Cultural Badesc recebe, a partir da quinta-feira, 28 de agosto, a exposição “ReverberAção”, do artista indígena Nei Xakriabá. Instalada no Jardim da Fundação, em Florianópolis, a mostra com curadoria de Betânia Silveira é inédita e reúne seis moringas zoomórficas modeladas em argila, que são objetos que evocam a relação ancestral do povo Xakriabá com a terra, a água e os animais do cerrado. A abertura será a partir das 19h.
As peças, moringa com tampa de gavião, moringa mãe-da-lua, moringa tamanduá, moringa onça, moringa peixe e moringa cobra, foram criadas ao longo do mês de junho de 2025, após meses de diálogo entre o artista e a curadora. Cada uma carrega uma narrativa simbólica que expressa a luta pelo território, a retomada das práticas cerâmicas tradicionais e a resistência cultural de um povo que reverbera sua existência através da arte.
“Essa exposição é uma forma de mostrar nossa diversidade étnica e nossas lutas pelo direito ao território e à própria existência. Espero que o público se interesse em conhecer mais de perto nossa história e troque os estereótipos por afetos”, afirma Nei Xakriabá.
O povo Xakriabá, pertencente ao tronco linguístico Jê, é um dos povos indígenas do Brasil que habita majoritariamente o norte de Minas Gerais, em território próximo ao rio São Francisco.
Primeira vez em SC
Essa é a primeira vez que o artista expõe em Santa Catarina e na Fundação Cultural Badesc. Para ele, o convite feito pela curadoria foi recebido com muita alegria. “É um orgulho ver nossa arte alcançar este Estado tão importante para o país. Meu lema é: arte indígena Xakriabá com um pé na aldeia e o outro pé no mundo”, destaca.
Betânia, que também é artista e trabalha com cerâmica, já participou de exposições na Fundação e assina pela primeira vez uma curadoria. “Conheci primeiro as obras do Nei, elas já carregavam o território, a memória e a força do povo Xakriabá. Depois, conheci o artista, e entendi que sua arte tem um pé na aldeia e o outro no mundo. Ela não só preserva, mas também anuncia: fala da terra, da luta e do tempo que insiste em não ser esquecido, e por isso fiz o convite para ele”, compartilha.
A expectativa do artista e da curadora, ambos nascidos em Minas Gerais, é de que a mostra seja amplamente visitada, especialmente por escolas e crianças, para que tenham contato direto com a cultura, a arte e a cosmovisão Xakriabá. “Ao ocuparmos esses espaços, mostramos para nossas crianças o valor da nossa arte e criamos estratégias para envolvê-las em nossas práticas ancestrais, mesmo diante dos desafios impostos pelas tecnologias que chegam às aldeias”, ressalta o artista.
Para Betânia, essa curadoria é uma oportunidade de possibilitar que a voz indígena do povo Xakriabá reverbere na arte de Santa Catarina. “Se anteriormente meu trabalho visual tinha o sentido de ecoar um apelo a ação de indigenizar o planeta, nesse momento sinto que de ‘eco’, passou a ‘reverberAção’, abrindo espaço para o artista indígena ocupar, e isso é muito importante pra mim e me sinto muito honrada por estar ao lado do Nei”, completa a curadora que apresentará uma intervenção, um painel em tecido com erva-mate.
A mostra “ReverberAção” poderá ser visitada até 14 de novembro de 2025 no Jardim da Fundação Cultural Badesc, que fica na Rua Visconde de Ouro Preto, 216, no Centro de Florianópolis. O horário de visitação é das 13h às 19h.
Sobre o artista
Vanginei Leite Silva, conhecido como Nei Xakriabá, artista, pesquisador, ceramista, professor indígena, graduado em Formação Intercultural para Educadores Indígenas, com habilitação em Línguas, Artes e Literaturas na UFMG. Possui Mestrado no Programa de Pós-graduação em Artes, EBA-UFMG, BH/MG. Filho da ceramista Dona Dalzira, sua primeira mestra, com quem aprendeu a modelar as primeiras formas de argila, mora na Aldeia Barreiro Preto, Terra Indígena Xakriabá, no município de São João das Missões, Minas Gerais. É presidente da Associação de Artesãos Indígenas do Povo Xakriabá. Desde 2011, realiza e participa de exposições individuais e coletivas. Nei Xakriabá se destaca no cenário contemporâneo da arte como artista ceramista que une, em seus trabalhos, cultura, mitologia e preservação da natureza. Suas mais recentes mostras individuais aconteceram em 2022 e 2023, respectivamente: “Gerais em Artes”, Montes Claros, e “Cerâmica é o bicho”, Museu do Barro, São João del Rei, ambos em MG. Em 2024, Nei, a convite, participou das exposições coletivas: “A água é mãe da terra”, Museu de Artes e Ofício, Belo Horizonte/MG; “TKAI WAMSRE, WANÕR TÊ DASIWAWE / Barro nosso Parente Ancestral”, Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular / Museu do Folclore, Rio de Janeiro; “Moquém-Surarî Arte Indígena Contemporânea”, Museu de Arte Moderna, 34ª Bienal, SP.
Sobre a curadora
Betânia Silveira é artista visual e professora Drª, pesquisadora da cerâmica e da performance. Natural de Belo Horizonte/MG, atua na área de Artes Visuais desde 1988. Vive e trabalha em Florianópolis desde 1991. Com a argila, a cerâmica e outros diversos materiais e linguagens, elabora obras que vão da escultura à instalação, utilizando também performance, vídeo, fotografia, hipermídia e desenho. De questões cruciais, retira conceitos centrados nos dilemas sociais, culturais e existenciais, com ênfase na defesa da natureza e da integridade do humano. Portanto, o ciclo vida-morte se faz presente em sua obra. Com exposições individuais e coletivas no Brasil, Argentina, Cuba, Suécia, Portugal, Turquia e Itália, Betânia conquistou prêmios e bolsas de incentivo durante seu percurso. Foi artista selecionada para exposição individual: em 2014, pelo edital do 1º Ciclo de Exposições do MASC – Museu de Arte de Santa Catarina; e em 2025, pela Convocatória para o Ciclo de Exposições do Centro Cultural Veras, ambos em Florianópolis/SC.
Serviço: Abertura “ReverberAção”, de Nei Xakriabá
Data: 28 de agosto – quinta-feira, às 19h
Local: Espaço Jardim na Fundação Cultural Badesc (Rua Visconde de Ouro Preto, 216 – Centro, Florianópolis/SC)
Visitação até 14 de novembro de 2025
Entrada Gratuita