Projeto premiado no Edital Elisabete Anderle vai circular por 10 cidades de SC entre os dias 9 a 27 de novembro
Um dos artistas mais importantes de Santa Catarina, Sérgio Adriano H, que vive e atua entre Joinville/SC e São Paulo/SP, usufrui os resultados de intenso trabalho em 20 anos de carreira e encerra 2021 em alta. Tanto que neste mês volta a circular por 10 cidades de Santa Catarina com o projeto “Palavra Tomada”, premiado no Edital Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura – Artes 2019. A jornada começa em 9 de novembro, na Fundação Cultural BADESC, em Florianópolis. A exposição gratuita acontece das 10h às 15h, na Rua Visconde de Ouro Preto, 216, no Centro da Capital.
O projeto vai passar ainda por Criciúma (10/11), São José (11/11), Itajaí (12/11), Chapecó (13/11), Joinville (16/11), Jaraguá do Sul (17/11), Blumenau (23/11), São Francisco do Sul (24/11) e em Lages (27/11). A programação completa com horários e locais está disponível no https://sergioadrianoh.wixsite.com/palavratomada.
O programa de estímulo à cultura, do governo do Estado, obtido por Sérgio em 2014, 2017, 2019 e 2020, assegura experiência na estruturação profissional da carreira, expande as ressonâncias de sua representatividade na arte contemporânea e ajuda a estabelecer parcerias em favor da circulação dos trabalhos, da reflexão e produção de conhecimento.
Nessa perspectiva, a descentralização das ações proposta pelo edital se ajusta aos interesses do artista que aprecia estar nas ruas, onde expõe nas calçadas, nas escadarias, em lugares movimentados. No começo da trajetória, como um mascate, carrega as obras dentro de um conjunto de malas transportado por um carrinho de duas rodas.
“Ultrapassar fronteiras de espaço, expectativas, cores, credos, classes sociais e instituições intelectuais é um dos fundamentos da minha arte. Mais que uma escolha, é o que me move”, explica o artista que ressalta que os projetos são baseados em falar com pessoas.
Papel político
A exposição “Palavra Tomada” afirma-se num contexto de resistência. Embasa o projeto com dados estarrecedores da atual realidade brasileira com o aumento dos índices de morte e violência contra mulheres e jovens negros/pardos. Como poucos no cenário artístico do Brasil, Sérgio Adriano assume um papel político para denunciar práticas eurocêntricas, colonizadas e racistas.
Sempre interessado nos fluxos de informações na sociedade contemporânea, naquilo que é apresentado como “verdade”, nesta série de 10 fotografias e objetos apresentados na exposição que discute a questão do racismo estrutural no Brasil.
As palavras interessam ao artista que desconstrói discursos históricos, “verdades apresentadas”, como ele prefere dizer. Suas investigações passam pelas enciclopédias, dicionários, livros de arte e revistas. Nestas imagens, recorta palavras para montá-las em carimbos apresentados na boca do artista.
Com os lábios cerrados, mostra, entre outras, as palavras preto e ordem e progresso. Carimbos são peças feitas de metal, madeira ou borracha que contém sinais gráficos em relevo que servem para marcar a tinta documentos, papéis, etc. Servem também, quando feitos de metal, para marcar o gado e, no passado escravocrata brasileiro, a pele para identificar a quem pertence aquele animal ou corpo humano.
“A obra de Sérgio Adriano se caracteriza por trazer em si esmero técnico, conceitual, político e talvez, principalmente, pela conscientização através da palavra, do “verbo”. Em tempos de destruição do país através de políticas suicidas calcadas em um individualismo extremo, Sérgio faz da palavra elemento fundamental na construção de uma poética potente que investiga a população negra no Brasil, marcada desde o berço, para ocupar espaços pré-determinados e de pouca visibilidade”, afirma a curadora Rosana Paulino.
Rosana, que também é artista, é referência na luta contra a invisibilidade da produção afro-brasileira no circuito de arte contemporânea. Usa seus conhecimentos para denunciar obstáculos engendrados pelo racismo estrutural, defendem a ampliação dos limites institucionais e o protagonismo dos negros na sociedade.
O projeto conta com a produção de Franzoi, assessoria de imprensa de Néri Pedroso, design gráfico de Jan M.O., assessoria educacional de Cyntia Werner, assessoria jurídica de Fausto Rangel e dos palestrantes: Célia Maria Ramos, Evandro Silva, Jadir Fagundes e Orlando Gulonda.
Sobre o artista
Sérgio Adriano H nasceu em 1975, em Joinville/SC. Artista visual, performer e pesquisador. Vive e produz entre Joinville e São Paulo. Formado em artes visuais e mestre em filosofia. Tem trabalhos em acervos públicos e particulares. Incluído em 2014 no livro “Construtores das Artes Visuais: Cinco Séculos de Artes em Santa Catarina” como um dos 30 artistas mais influentes do Estado. Já integrou mais de 120 exposições individuais, coletivas e salões. Conquistou, entre outras premiações, o Reconhecimento por Trajetória Cultural Aldir Blanc SC (2020), Medalha Victor Meirelles – Personalidade Artes Visuais (2018), concedida pela Academia Catarinense de Letras e Artes (Acla), o da Aliança Francesa de Arte Contemporânea 2018 e o 10° Salão Nacional Elke Hering (2012). Com objetos, fotografias e vídeos, a prática do artista propõe reflexões sobre temas existenciais pensados dentro do sistema simbólico chamado como “verdade”. Essas discussões abrangem questões sobre a morte, a identidade racial, a violência e o apagamento social. A crítica política e social é forjada permanentemente na experiência de campo, no contexto da vida real e nas situações do cotidiano. As fotografias, instalações, performances e objetos são criados justamente para fazer pensar e provocar incômodo diante de uma realidade de dor e sofrimento.
Sobre a curadora
Rosana Paulino (São Paulo, 1967) é uma artista brasileira, educadora e curadora. É doutora em artes visuais pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e especialista em gravura pelo London Print Studio. Suas obras têm como foco principal as questões sociais, de etnia e de gênero que dizem respeito à mulher negra na sociedade brasileira. Nesse sentido, sua produção busca questionar os estereótipos de beleza e comportamento que historicamente estão associados às mulheres negras e mestiças. Chamam a atenção também para a violência dirigida à população negra, intermediando uma reflexão crítica sobre a contemporaneidade e a vida da própria artista.
Serviço: Projeto “Palavra Tomada”, do artista Sérgio Adriano H
Data: 9 de novembro – terça-feira
Horário: 10h às 15h
Local: Fundação Cultural BADESC – Rua Visconde de Ouro Preto, 216, Centro – Florianópolis/SC
Entrada gratuita