A exposição virtual Reabitar, é um projeto coletivo desenvolvido em parceria por Radilson Carlos Gomes, Eneléo Alcides, Franchêscolli Gohlke e equipe da Fundação Cultural Badesc.
A Fundação Cultural Badesc é uma casa de encontros. Neste evento, seu público não passa pelos antigos portões de ferro, nem sobe as escadas do casarão eclético amarelo, mas acessa diretamente suas paredes, janelas, jardins, galerias, pisos e tetos. Todos os rostos são conhecidos. Os que fazem parte da equipe, os que frequentam a casa, os que encontramos ao acaso pela cidade e os que nunca vimos antes, mas reconhecemos entre expressões que conectam a humanidade.
Visitar virtualmente, exibir digitalmente, conectar-se à distância. Nada disso é novo, mas o fenômeno mundial do isolamento empurra a todos para esse portal. Algo que levará muitos anos para ser devidamente compreendido. Enquanto isso, acessar o público, ativar amigos e circuito, insistir, resistir, realizar, são sentimentos comuns de pessoas que não sabem deixar de fazer. Entre as inquietudes das incontáveis instituições de arte, produtores, artistas e público mundo afora, a equipe da Fundação Cultural Badesc também registra a sua história. Comprometida com a realização diária de múltiplos eventos, não é sem espanto que a equipe observa as pilhas de jornais que se acumulam sobre a antiga escrivaninha de madeira do hall de entrada. Para além das atividades que cada integrante da equipe realiza a partir de sua casa, é preciso também reativar o casarão amarelo, espaço convergente no centro da Cidade de Florianópolis, no Estado de Santa Catarina, no Brasil, que nos últimos meses exibe, a portas fechadas, uma coletiva de artistas da América Latina. Assim como as cidades e o mundo, a Fundação Cultural Badesc quer ser reabitada e convida o fotógrafo Radilson Carlos Gomes para povoar suas paredes, pisos e tetos com os mais de mil rostos que fotografou originalmente para sua exposição Floripa em 3 x 4, exibida no Espaço Fernando Beck entre março e abril de 2019.
Não é por acaso que esses retratados retornam à casa. Para seu projeto original, Radilson se instalou ao longo de um ano em praças, ruas e eventos de Florianópolis, conversou com quem passava e, com câmeras lambe-lambe antigas, fez mais de mil registros de pessoas que nasceram, adotaram, frequentaram ou passaram pela cidade. As entrevistas recolhidas documentam que um quarto dos fotografados é de origem local, enquanto 28% vêm de outras 77 cidades catarinenses, 41% de outras 162 cidades brasileiras e os 6% restante são originários de 48 cidades pertencentes a 21 países estrangeiros. Além de revelar projetos de habitar a cidade, a investigação evidencia a circulação através do mundo. É essa vontade de conhecer, percorrer, pertencer, habitar, por longa ou curta duração, que vincula a humanidade, propagando o que porta de melhor e o seu revés.
Em tempos de números, cada um dos rostos que reabita as paredes da Fundação esconde uma história, ao mesmo tempo que a reverbera. Alguns olhos já sabemos fechados, outros interrogamos o que olham e como olham este momento. Se originalmente foram retratados como habitantes locais, hoje representam cada cidade do mundo. São pessoas conectadas pelo isolamento.
Texto: Eneléo Alcides.
Projeto, execução, captura de imagens: Radilson Carlos Gomes, Eneléo Alcides, Franchêscolli Gohlke e Equipe da Fundação Cultural Badesc.
Retratos originais: Radilson Carlos Gomes.
Apoio: Câmera Criativa.