ÁGUA MOLE, PEDRA DURA
CAMILA MARTINS
ESPAÇO PAULO GAIAD | 07 DE NOVEMBRO A 09 DE JANEIRO
Inspirada no provérbio popular “Água Mole em Pedra Dura, tanto bate até que fura”, a exposição individual de Camila Martins no espaço Paulo Gaiad da Fundação Cultural BADESC aborda a potência da transformação contínua e inevitável que o tempo exerce sobre o que parece imutável — seja a superfície dura das rochas, seja a estrutura das relações e modos de vida humanos. A mostra reúne esculturas inéditas de cerâmica em combinação com outros materiais, criadas nos últimos cinco anos entre São Paulo e Florianópolis, que exploram a persistência da água ao se confrontar com a dureza da pedra, oferecendo uma analogia profunda sobre os processos de adaptação e resistência.
Na concepção de Achille Mbembe, entre o nome que nos é dado, o significado que carrega e a nossa identidade reside um espaço sempre inatingível, uma distância que somos convidados a cultivar e, quem sabe, radicalizar. Esse pensamento permeia o trabalho da artista, que direciona seu olhar para nossos “invólucros”, examinando a permeabilidade da intimidade e a “carcaça” que deixamos ao longo das transformações que definem nosso crescimento e mudanças.
Em consonância com a teoria de Peter Sloterdijk sobre o ser humano como arquiteto de espaços interiores, Martins cria obras que refletem a construção constante de esferas de proteção cultural, que formam uma camada permeável entre o eu e o mundo externo. Como uma série de cascas que nos cercam, essas esferas ilustram a contínua dança entre o abrigo e o despojamento, onde nossos horizontes, certezas e formas de vida se renovam em um ciclo vital de transformação e dissolução.