E-N-F-R-E-N-T-A-M-E-N-T-O
JANAÍNA CORÁ
CURADORIA DE FERNANDO BOPPRÉ
ESPAÇO PAULO GAIAD | 04 DE MAIO A 07 DE JUNHO DE 2019
O título da mostra sugere um embate com algo ou alguém. Mas também um gesto de coragem. Apesar de interessar à artista a discussão filosófica e social, o que está em jogo nesta exposição é um re-engajamento na técnica da pintura a óleo, sem procurar qualquer releitura dos clássicos, mas sim uma poética contemporânea. Possibilidade de mergulho nas camadas de tinta; de respiro em uma realidade de força, presença e intenção diante do mundo. Janaína Corá é artista e professora de artes na rede pública estadual desde 1998. Vive e trabalha em Chapecó e cursa mestrado em Educação na Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó).
APRESENTAÇÃO
Exposição E-n-f-r-e-n-t-a-m-e-n-t-o, de Janaína Corá. A arte possui diferentes modos de se relacionar com a realidade. Existem artistas que deliberadamente a omitem de suas obras. Andam pelo mundo como se vivessem em outro. É um gesto radical, reativo. Muito difícil de se realizar plenamente. Porque o ser humano faz parte desse “tudo o que existe = realidade” e se retirar dele significa se evadir da linguagem – algo que para a psicanálise, por exemplo, é-nos impossível.
Interessa a Janaína Corá a discussão filosófica e social sobre a realidade à medida que o título da exposição sugere um embate com algo ou alguém. E não precisamos lembrar o quão cruel tem sido viver nos últimos tempos. Aparentemente, a realidade se revestiu de uma voraz necessidade maquínica do capital que produz acumulação e desprezo (de materiais, saberes, sentimentos, valores). Os fundamentos básicos para se viver em sociedade se tornam exceção, como a busca de igualdade de direitos, o respeito às liberdades e o acesso às necessidades básicas do indivíduo, como o alimento, a família, a pátria, etc.
No entanto, precisamos deslocar a atenção disso que chamamos de “realidade” para o que podemos denominar como “realidade da arte”. A exposição apresenta a luta que a artista tem travado com os elementos que constituem o fazer da arte. Foi assim que as antigas telas de grande formato de Janaína Corá deram lugar a trabalhos menores, que demonstram a vontade de uma relação mais íntima com a pintura e a sua profundidade.
Num primeiro momento, as telas podem remeter ao gênero da paisagem, numa alusão à pintura de marinhas. Contudo, a artista declara não ver necessariamente a representação do céu, do mar e da terra em seus trabalhos. Parece que, como em formas tradicionais da poesia, tais quais o haikai e o soneto, a marinha apenas fornece uma forma predisposta ao começo, uma caixa onde apresentar sua poética visual. Se esquecermos que se tratam de paisagens, se mergulharmos nas camadas que a tinta a óleo fornece ao olhar, nos gestos que o conjunto de pinceladas produz, poderemos reencontrar uma realidade de força, presença e intenção diante do mundo.
Fernando Boppré | Curador