IN(ADEQUADAS)
SILVIA TESKE
ESPAÇO 2 | 07 DE AGOSTO A 19 DE SETEMBRO DE 2014
Personagens femininas constituem o centro da trama narrativa da exposição. Com tinta acrílica, lápis e caneta posca, a artista aborda personagens femininas bizarras, inadequadas e sorrateiras. Mesmo em grupo, são mulheres solitárias à margem da sociedade, representadas por meio da relação íntima entre o desenho
e a pintura. A temática das 10 obras em exposição é permeada por situações de impacto, criando estado de suspense para o observador. A ideia de fundos neutros, a maioria em escuro, cria a possibilidade de vazios a serem preenchidos, provocando o expectador a criar enredos paralelos. Desengonçadas, aflitas e descabidas, as figuras não são confiáveis. Seus olhares oblíquos negam padrões. Dessa forma, a interpretação do espectador ocorre sem desfecho, à espera de algo, o silêncio do sonho ou o vácuo da insensatez. Mestre em artes visuais pela Udesc, a artista é catarinense de Brusque e tem o papel feminino como foco desde o início de seu trabalho. Silvia também organiza e faz curadoria para exposições de arte visuais em sua cidade, além de dar aulas e trabalhar em outros projetos.
(IN)ADEQUADAS
Novela das oito, 2014. Acrílica sobre tela, 60x125cm.
Silvia Teske, em meados dos anos oitenta, integrou o grupo performático GUARÁ, cujas premiadas performances participaram do processo de renovação das linguagens artísticas de Santa Catarina que iniciou nesse período e consolidou-se nos anos noventa.
O humor e a sátira presentes na arte performática persistiram na obra dessa artista em suas fases posteriores após a dissolução do GUARÁ.
Recorrendo a uma ampla variedade de meios pós modernos, mesclou textos, letras, colagens, etc, em séries de assemblages, pinturas-objeto onde abordava questões ligadas à identidade feminina.
O temperamento artístico performático de Silvia tem no humor descontração e irreverência, suas mais marcantes caraterísticas.
Em sua fase atual, alia o desenho e a pintura em divertidas narrativas que configuram cenas do dia a dia das “tias”, personagens arquetípicos que utiliza para dar seu recado.
Recompilando dados de suas observações e memorias (sem, porém, nada ter a ver com o realismo), retrata as mais inusitadas e cômicas situações do cotidiano dos personagens. Em suas telas vamos deparar com as “tias” passeando de bicicleta em grupo ou individualmente, tricotando ou fofocando no sofá, posando para fotos em família, exibindo seus moderninhos óculos redondos ou estateladas no divã curando uma ressaca (tia beberrona).
São pinturas que usam a cor parcimoniosamente. Os fungos em geral são negros e prevalecem os meios tons de cinzas e beges. Vez por outra são intercalados planos de cores mais vibrantes que dinamizam a composição e acentuam os efeitos visuais.
Predominantemente gráficos nesses trabalhos onde o desenho pontifica, a rapidez da anotação direta dos traços remete ao cartum e ao grafite.
No caráter solto, agressivo e anticonformista do traço, percebe-se que os sentidos e conotações dessas obras não se esgotam, nem se resumem apenas no aspecto divertido do engraçado mundinho dessas tias simpáticas, cativantes e serelepes.
Nas pinturas, nos desenhos, nas performances e no recém lançado livro, Silvia Teske, através da linguagem da arte recria vivências e percepções, refletindo e propondo com humor indagações sobre a própria condição de ser mulher num contexto tão complicado como o nosso mundo de hoje.
João Otávio Neves Filho – Janga