LÍNGUA LOUCA
LETÍCIA CARDOSO
ESPAÇO PAULO GAIAD | DE 12 DE JANEIRO A 31 DE JANEIRO
Língua Louca
“para se chegar à mudez, que grande esforço da voz” Clarice Lispector.
Língua Louca trata-se do desenrolar de um raciocínio em gestos contraditórios como rasurar com cor, áudios sobrepostos em vídeos ficcionais, deslocados pela voz de outros. A cor composta pelos apagamentos, elabora a linguagem pela travessia ao ruminar uma experiência. A memória indigesta por um afeto que dói, toma a cor como remédio. Destituir uma língua no deslocamento entre os suportes e materiais, ou, fazer o corpo bagunçado que há nela, balbuciar, repetir, gaguejar até elaborar um novo sentido ou um silêncio.
Visitei o século XIX para reler o amor romântico e conceito de histeria para tentar compreender o que sentia como mulher no século XXI com restos do imaginário de lá, cá. Inscrevi meu desejo de contaminar outros corpos, deslocar contextos sociais e experiências de vida durante a escrita do projeto na Lei. Na redução dos valores do projeto poderíamos mudar tudo, menos o nome. A língua louca não pausa, resiste em submeter-se a língua comum. Sofri um acidente de carro. Mordi minha língua. Fiquei alguns meses muda e perdi parte da sensibilidade da língua. A língua louca cicatriza, subverte-se ao esbarrar com a mudez cromática.
A subversão da língua, para Cecília Palmeiro, começaria com o próprio corpo, primeiro terreno de inscrição ideológica e de regulação social. O corpo aparece no discurso da feminista Chimamanda quando ela apresenta aspectos de sua biografia como usar várias cores de batons porque eu estaria mais confortável na minha própria pele e seria mais verdadeira comigo. No corpo da pesquisa entendi que nos discursos ocorrem contaminações com experiências de vida e neste balbuciar de faltas e falas, escutas e silêncios transita a linguagem que arrisca linhas de fuga da subjetividade dominante. Língua Louca é uma articulação possível do singular inscrito no tom de voz ruidoso nesta exposição.
Letícia Cardoso
Janeiro/2024