PAISAGENS INTERNAS
GUSTAVO SCHEIDT
CURADORIA RAONY RUIZ E MIGUEL VASSAL
ESPAÇO PAULO GAIAD | DE 14 DE MARÇO A 02 DE MAIO
A paisagem é um tema recorrente nas produções de Gustavo Scheidt: espaços geográficos, relevos, montanhas, cenas naturais presentes no trajeto entre Florianópolis e sua cidade natal Petrolândia, no interior serrano catarinense. A composição das pinturas, através das manchas de tinta em diversas direções, sugere uma ideia de movimento, o que também possibilita modos de ver a passagem do tempo, como um olhar para o presente e para o passado, incitando uma relação entre tempo e espaço, entre experiência e memória. Neste contexto, o termo paisagem pode denotar um segundo sentido: o de paisagens internas; do sujeito que olha para as cenas do passado e projeta nelas as reflexões do tempo presente.
A escolha de apresentação destas cenas, destas paisagens, evidencia o espaço geográfico do interior catarinense, mas o faz com um mínimo de resquícios da presença humana. Quase não vemos construções ou pessoas, apenas os elementos naturais elaborados a partir de pinceladas dinâmicas, com contrastes cromáticos que sugerem relações entre as paisagens internas e as cenas externas, entre as experiências do artista e as escolhas de processo pictórico.
Nas obras, as possibilidades de diálogos com as culturas das cidades interioranas não estão figuradas nas composições, mas se apresentam no rompimento com o suporte tradicional da pintura, sobretudo no uso de sacos de ráfia. Este elemento, que outrora fora utilizado para armazenagem de grãos, é ressignificado como suporte para a memória e para as projeções internas. Da mesma forma, alinhando-se às provocações da arte contemporânea, Gustavo Scheidt utiliza de suportes não convencionais, evidenciando elementos de sua poética como os tecidos crus e a moldura vazia, rearranjada e ultrapassada pela tinta.
Por fim, a presença do autorretrato também sugere a relação interno/externo, marcando o olhar do artista, o local móvel de sua observação a partir de suas vivências, sendo a representação do próprio artista o único elemento humano figurado nas pinturas. É, portanto, esse olhar pictórico do artista sobre as paisagens da memória que nos sugere um ponto de partida no deslocamento por entre planos e cores. Esse mesmo olhar nos convida a desvelar e questionar essas paisagens, compreendendo o interior não somente como um lugar físico e fixo mas como cenas que se reconstroem e se sobrepõem a partir das experiências e significações de quem as contempla através do tempo.