PLUTÃO NÃO É MAIS PLANETA
DÉBORA STEINHAUS
ESPAÇO FERNANDO BECK | 07 DE MARÇO A 20 DE ABRIL DE 2007
APRESENTAÇÃO
“A natureza é plena de infinitas razões que não podem ser conhecidas pelos sentidos”
Leonardo da Vinci
…descobrir na categoria da pintura o meio adequado para qualificar seus interesses artísticos e ideológicos levou Débora Steinhaus a um desafio extra, fazer pintura? Não há de omitir-se o fato de que remar ao arrepio da maré implica em esforço muito grande quando o problema é criar idônea versão da realidade, com regras pontualmente apropriadas, e longe dos acessórios e códigos que não devem ser recapitulados.
(…) na travessia da arte, traduzir o mundo, ás vezes concerne mais aos desvios do que aos caminhos.
A pintura de Débora Steinhaus ocupa um nicho específico na arte Brasileira.
O processo produtivo da artista, paciente e esclarecedor, não se orienta para a silenciosa via simbolista onde paisagens imaginárias emergem em brumas que nos envolvem e fascinam seja pela metafísica inerente, seja pela meditação ou pelo ocultamento. A figuração de Débora Steinhaus trai um pensamento alerta, não afeiçoado aos labirintos, e o sossego de seu repertório visual não tende a contemplação, mas a verificação (tornar verdadeiro).
Débora Steinhaus sente-se mais à vontade com grandes formatos. Aí o espaço ampliado nos permite verificar melhor como nada flutua e como, no meio da luz explícita, raramente dramática, o teor introspectivo cede a uma relação matemática (por certo empírica) que lembra os pintores holandeses do século XVII (De Hooch), e também por estranho que pareça, Mondrian, que nesse particular aspecto, é bom intérprete daqueles.
(…) Quando há referências nessas rotinas do cotidiano que se apresentam aos olhos do espectador é mais fácil encontrá-las em Vermeer do que no flagrante tirado pela máquina fotográfica. Percebemos na pintura de Débora Steinhaus intimidade sem intimismo, uma intimidade por assim dizer cartesiana, com lugar para o exógeno, mas não para o exótico. Se as antropologias procuradas podem estar na China, na Europa central, no oriente Médio, é que as guerras ou desastres desses mundos aparentemente distantes pertencem à imediatez do tempo e à contração do espaço, à fuga da lonjura e à condição humana nesse mundo globalizado às portas do aquecimento ameaçador.
(…) podemos afirmar que os códigos de representação, na pintura de Débora, não provêm de nenhum dos realismos experimentados no decorrer do modernismo. Trata-se, está na hora de repetir, de uma conquista que lhe tem custado um comprometimento nada fácil de ser administrado.
Excerto do texto de:
João Evangelista de Andrade Filho