HABITAR
JOÃO AIRES
ESPAÇO 2 | 27 E OUTUBRO A 24 DE NOVEMBRO DE 2016
O artista explora lugares de intimidade e de estar no mundo. Em uma das séries, solicita a diversas pessoas uma descrição oral pormenorizada de seus aposentos e materializa a representação desses depoimentos, transpassando técnicas de registro etnográfico e de retrato falado. O processo, pensado enquanto etapa exploratória de uma produção maior ou futura, constitui por si só uma obra instigante sobre a condição humana e o modo de vida contemporâneo. Em contraponto, outra série de pinturas remete a um universo onírico instaurado fortemente pela sua própria experiência em compartilhar por longo tempo de colégio interno um quarto com oitenta pessoas. João Aires é formado em Artes Plásticas e Intermédia pela Escola Superior Artística do Porto e Mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal da Bahia. Especializou-se em Arte Pública e Site Specific. Natural de Portugal, vive e trabalha em Florianópolis/SC.
APRESENTAÇÃO
Exposição Habitar, de João Aires.
Os apartamentos não são mais habitações criadas para os homens, mas sim máquinas de morar destinadas a guardar coisas: cada edifício é um armário, cada sala é uma gaveta.
Jean Paul Sartre
Habitar o tempo, as estradas, a cidade, habitar o que construo como artista é um exercício constante de compreensão do mundo, um modo de traduzir minhas experiências e inquietações, já que toda construção tem por meta o habitar. Meu processo criativo procura desenvolver trabalhos que suscitem a ligação entre espaço urbano e o imaginário o espaço de intimidade e o espaço público.
Para esta exposição, busquei explorar os lugares de intimidade das pessoas e como eles se apresentam no mundo. A complexidade de sua materialização está diretamente ligada ao modo de vida na contemporaneidade, considerando que estamos imersos em políticas que não privilegiam a qualidade de espaços de convívio e tampouco o íntimo. O excesso na minha pintura surge da falta, da proximidade geográfica e da distância da construção que serve ao habitar humano, às relações e ao diálogo. Minha experiência em viver com 80 pessoas no mesmo quarto durante 5 anos me leva a criar estes corredores de camas e criar estas narrativas mais ou menos poéticas. O primeiro trabalho desta série chama-se “habitáculos”, desenhos feitos a partir da descrição de quartos, retratos falados. Nas pinturas apresentadas, o subconsciente age num espaço sem fronteiras aparentes: camas navegam em rios e na densidade onírica. João Aires
Florianópolis, agosto de 2015