PAISAGEM PLURAL
ANA MÄHLER • ALEXANDRA ECKERT • ANGELA ZAFFARI • BEATRIZ DAGNESE • BEATRIZ HARGER • BIANCA SANTINI • FÁBIO ANDRÉ RHEINHEIMER • FERNANDO LINDOTE • FLÁVIO MORSCH • GUSTAVO RIGON • HELENA D’ÁVILA • MARLENE KOZICZ • RICARDO GIULIANI • ROSALI PLENTZ • SILVIA RODRIGUES • UMBELINA BARRETO • VERA REICHERT • VERLU MACKE • WALMOR CORRÊA • ZETTI NEUHAUS
CURADORIA DE ANA ZAVADIL
ESPAÇO FERNANDO BECK | 10 DE MARÇO A 20 DE ABRIL DE 2016
A categoria paisagem, em seu sentido mais amplo, interliga as obras, oportunizando que a poética de cada artista transite da representação mais icônica até a sua dimensão mais simbólica. A paisagem assume significados diversos por meio de subjetividades, metáforas e narrativas no enleio curatorial. A proposta surge da conversa com Ana Zavadil durante sua atuação como curadora assistente na 10ª Bienal do Mercosul, partindo da intensão de trazer à Fundação um panorama de artistas gaúchos contemporâneos, tendo como contraponto dois artistas especialmente convidados: Walmor Corrêa, artista catarinense que firma sua carreira no Rio Grande do Sul e Fernando Lindote, artista gaúcho que estabelece sua produção na Ilha de Santa Catarina.
APRESENTAÇÃO
Exposição Paisagem Plural.
A paisagem sempre teve seu lugar na história da arte. Até o século XIX ela era apenas o pano de fundo para pinturas de cenas religiosas e mitológicas ou de retratos. Do século XIX em diante ela passa a desempenhar o papel principal, evoluindo para a categoria de pintura de gênero.
Na contemporaneidade e nesta exposição a paisagem reinventa-se a partir da natureza, da cultura e da estética.
Em Paisagem Plural, a paisagem é usada como foco conceitual das obras, em que a representação poética de cada artista vai desde a natureza em si mesma até a sua dimensão simbólica. A paisagem assume outros significados por meio de subjetividades, metáforas e narrativas, em que a intenção, as tramas e os encontros dão origem aos trabalhos que serão levados à visibilidade pública.
A escolha das obras para a exposição teve como objetivo buscar aquelas que caracterizassem ou descrevessem o conceito de paisagem, deixando, no entanto, um limite poroso para que se pudesse expandir o conceito. As diferentes linguagens que percorrem o assunto vão desde a instalação, a pintura, a fotografia, o desenho e a escultura e/ou o objeto dentre outras modalidades. Não necessariamente vamos identificar uma paisagem em seu limite reconhecível, pois ele pode estar em consonância com outros modos de entendê-la. Ela pode estar representada por meios que intentam significar, matas, céus, florestas encantadas, ou mesmo nas suas cores e luzes; nas paisagens urbanas ou em abordagens singulares, ficcionais ou fantásticas. E mesmo elas sendo de estilos diferentes no contexto da exposiçao ampliam o seu potencial de significado.
A partir dos textos de Anne Cauquelin e Nelson Brissac Peixoto a exposição Paisagem Plural tomou forma, pois a paisagem é vista sob diferentes aspectos, ou seja, a paisagem real em justaposição à imaginária, a paisagem urbana em diálogo com a rural. A paisagem confrontada e reinventada coloca como objetivo discutir o conceito expandido de paisagem, abordado por diferentes artistas a partir de suas investidas particulares.
A paisagem urbana é composta pela sobreposição de elementos: são muros, prédios, casas, às vezes pixados ou corroídos pela umidade e pelo tempo, que se acumulam e justapõem criando o caos, a convergência ou a divergência do olhar. As informações publicitárias com cores intensas feitas de placas e outdoors, luzes por toda parte inquietam os sentidos. Os carros e as pessoas, em um ir e vir constante compõem um espaço cheio de cor e movimento. A paisagem urbana segundo Peixoto é:
“Campo de intersecção de pintura e fotografia, cinema e vídeo. Entre todas as imagens e a arquitetura. Horizonte saturado de inscrições, depósito em que se acumulam vestígios arqueológicos, antigos monumentos, traços de memória e o imaginário criado lá, pela arte contemporânea. Esse cruzamento entre diferentes espaços e tempos, entre diversos suportes e tipos de imagem, é que constitui a paisagem das cidades.” (PEIXOTO, 1996, p.10)
O campo é a calma, o horizonte que se estende até encontrar o céu e a terra, ou o verde da vegetação, ou mesmo o mar, no silêncio povoado de imaginação.
A justaposição dessas diferenças ou a hibridização destas imagens, ou mesmo a apropriação de objetos que compõem esses universos imbricam-se nas mais variadas e imprevisíveis vestes, criando trabalhos de grande valor artístico, pois cada artista interpreta e representa a sua paisagem. A paisagem rural para Cauquelin é:
“O campo oferece tudo o que a paisagem subtrai – a calma, a abundância, o fresco e, bem supremo, o ócio para meditar, longe dos falsos valores. Como um duplo invertido, o campo oferece o negativo da cidade, que, não obstante, toma dele emprestado alguns traços sem os quais não poderia passar: o que seriam, pois, as colunas de mármore que adornam as casas senão a imagem das florestas? E por que querer ter a visão do campo longínquo senão por ser lá que se situa a verdade?” (CAUQUELIN, 2007, p.62)
Exposição Paisagem Plural.
E para nós? Que paisagens são essas do nosso mundo contemporâneo?
Todas as informações registradas no subconsciente de cada artista acaba gerando imagens que, ao serem transportadas para a sua arte dão um novo sentido à paisagem. Isso significa dizer que vamos encontrar a paisagem de cada um, seja ela inspirada na cidade ou no campo, impregnada de informações ou que mantenham a calma e beleza, o lúdico, ou mesmo as suas cores e as suas luzes.
A tradição e a prática acadêmica e mesmo as vanguardas históricas do início do século passado em relação à paisagem são ultrapassadas pela arte contemporânea, pois na busca de uma nova estética e rumos conceituais, o gênero confirma a sua presença nas poéticas de agora ao citar ou explorar esse conceito e ressignificá-lo em novos contextos ou em novos suportes.
Os artistas convidados para esta exposição se ocuparam em desenvolver suas poéticas em suportes diferentes e originais e a curadoria procurou inseri-los em um contexto onde a paisagem emerge de forma real, imaginária ou simbólica, em uma dinâmica transversal que traga ao observador a paisagem como um lugar sensível, ligada muitas vezes ao afeto ou a memória.
A paisagem que ora se apresenta descritiva, ora metafórica, pode ser também emblemática e simbólica através das obras, pois elas reunidas criam possibilidades de leituras intercambiáveis, provocadas pela disposição e pelo grau de complexidade de cada uma. A chave para essa leitura está no percurso escolhido por cada observador e no modo como colocará a sua imaginação a uma disposição aberta da sensibilidade.
REFERÊNCIAS
CAUQUELIN, Anne. A Invenção da Paisagem. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
PEIXOTO, Nelson Brissac. Paisagens Urbanas. São Paulo: Ed Marca D’Água, 1996.
Ana Zavadil | Curadora