OBEJOS INSTALATIVOS
RUBENS OESTROEM
CURADORIA YARA GUASQUE
ESPAÇO JARDIM | 12 DE SETEBRO A 12 DE DEZEMBRO
A arte se diferenciaria da atividade do trabalho por ser fruto do ócio. A invenção artística operaria a formalização do ócio, segundo Simondon (Simondon 2013: 179). O tempo da arte seria o tempo do ócio. A paixão ou impulso construtivista no amador é guiada por outras lógicas. O exemplo para Simondon seria a prática do carteiro Cheval (Simondon 2013: 65-67). Ao longo de vários anos Cheval deu corpo a um sonho encaixando pedra sobre pedra — todas retiradas de sua inércia em sua coleta atenta e minuciosa, para depois dar aos encaixes a solução de uma engenharia detalhista que inclui a logística do transporte dos objetos e pedras de suas caminhadas
Os objetos instalativos para Rubens, como no caso da bricolage descrita por Simondon, são fruto de uma sorte de operacionalidade inventada na escassez de materiais e ferramentas ditas “artísticas”. Encontrados ao acaso, como resíduo descartável nas ruas, quando a memória da funcionalidade dos objetos de antes ainda é visível. É esta vaga funcionalidade que norteia a concepção e a realização dos futuros objetos. É o que conduz a ação de Rubens sobre os mesmos, que os reveste de novas formas significantes. Como nos objetos da bricolage, a limitação das ferramentas faz com que o processo de manufatura os distanciem dos moldes de produção industrial — que é quase inteiramente apagada. Longe do trabalho sistematizado das indústrias que roubou a autonomia de seus operários, justamente reafirmam a autonomia, mesmo que acanhada, daquele que opera sobre eles, o artista. É na fatura pormenorizada e individual de um trabalho guiado pela curiosidade e intuição, que os objetos instalativos são, por vezes, moldados por uma “intenção imaginante”, que aglutina um excesso tornando-os não funcionais
Antes invenção, do que objetos matéricos a serem “derruídos” pelo tempo, os objetos instalativos possuem uma lógica que nos leva a crer na comunicação direta e pensante da matéria escolhida e dos objetos recolhidos ao acaso. Na invenção não só a matéria se dobra, lonas rasgadas, malhas esticadas, ferro que se oxida, madeira que é aplainada, raiz descascada, mas o sistema ao qual pertenciam é comunicado: árvores, cadeiras, rodas de carros-de-boi, bolas de futebol, bolão.
Tardes de lazer nas praias, jogos amistosos de bolão, o ranger da roda dos carros-de-boi, a acomodação do corpo junto à mesa. O ócio e seus sabores, por assim dizer. O acoplamento do vivente a seu meio na comunicação dos mundos subjetivo e objetivo como nos diz Simondon (2013: 210), e a auto percepção da sensorialidade. Longe de ser a materialização de uma imagem ou um objeto dentre outros, é este acoplamento que permite a circulação de sentido entre ser vivente e meio, e na medida da elaboração do objeto, torna possível a conscientização ou a organização de relações quando modelos operatórios, e órgãos de sentido, atuam intrinsecamente. Seriam os objetos instalativos organismos vivos? Como no caso dos corais, ou dos cupins, cujas existências individuais se confundem com seus processos de auto-organização na construção de seu entorno? É neste esforço criativo de auto-organização que nos permite ver pequenas invenções. Como objeto artístico, os objetos instalativos de Rubens Oestroem atribuem a mesma dimensão aos procedimentos de invenção e de execução.
Simondon, Gilbert (2013). Imaginación e Invenção (1965-1966).
Buenos Aires: Cactus
