Projeto inclui a exibição de vídeos-arte com as experiências de 11 vítimas e roda de conversa
Somente na primeira metade do ano passado, foram requeridas quase 13 mil medidas protetivas a
mulheres em Santa Catarina. Para dar visibilidade aos abusos que a população feminina muitas vezes sofre
em silêncio, a artista visual Júlia Steffen lança a mostra Da Dor à Luta: Histórias de Mulheres Sobreviventes
da Violência no próximo dia 10 de novembro, na Fundação Cultural BADESC, em Florianópolis.
O projeto, viabilizado com recursos do Prêmio Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura 2022, consiste em
cinco vídeos-arte que trazem as experiências de 11 vítimas – mulheres que também são bissexuais,
indígenas, negras e/ou transexuais, entre outros grupos discriminados. Após a exibição dos audiovisuais,
haverá roda de conversa com a realizadora, a advogada Iris Gonçalves e a psicóloga Glauce Carrazzoni.
— Ao mesmo tempo em que são individuais de cada mulher, as situações se revelam coletivas à medida
que se repetem nas experiências particulares. O projeto, assim como o meu trabalho como artista, tem o
objetivo de não somente conscientizar a sociedade a respeito do tema, mas também promover um
acolhimento e mostrar que nenhuma mulher está sozinha — explica Júlia.
Os vídeos, com intervenções de pinturas e desenhos sobre as imagens e depoimentos captados, abordam
variados tipos de violência: física (agressões, lesões), psicológica (dano emocional, redução da autoestima),
sexual (relações não desejadas), patrimonial (retenção ou destruição de bens), moral (calúnia, difamação),
política, entre outras. Após a exibição, as peças estarão disponíveis gratuitamente no canal de Júlia no
YouTube.
Além de Júlia, a equipe de profissionais que participaram do desenvolvimento e da execução contou com
Meg Tomio Roussenq (curadora), Carlos Pontalti (captação de vídeo e diretor de fotografia) e Amanda
Amorim (captação de áudio). Confira abaixo a descrição de cada vídeo, segundo a própria artista visual e
idealizadora do projeto:
1 – Existência: sou porque muitas outras já foram
Somos e resistimos, porque outras mulheres foram e resistiram antes de nós. Mães, avós, professoras,
amigas: resgatamos nossa força em outras mulheres para continuar enfrentando a realidade.
2 – A violência é o dia a dia
Neste audiovisual, são abordadas de forma mais específica histórias de violência vivenciadas pelas
mulheres entrevistadas. Nos relatos, vemos como a violência é diária e, ao contrário do pensamento
popular, as mulheres não sofrem apenas violência doméstica; a violência patrimonial, moral, psicológica,
política ou racial, além das microviolências, estão presentes em suas rotinas. As bocas, pintadas à mão e
inseridas ao vídeo, ressaltam como as violências são ao mesmo tempo individuais, mas coletivas, a partir do
momento que se repetem sem parar em diversos corpos.
3 – A história que está para acontecer
Neste vídeo, 11 mulheres contam a história de um feminicídio em primeira pessoa, através do olhar da vítima. Apesar de fictícia, a história foi organizada e montada com pedaços de situações relatadas durante a concepção do projeto. O vídeo causa estranhamento, pela forma com que foram recortadas as falas e imagens, buscando levar um desconforto ao espectador. É a realidade nua e crua: o final de toda violência doméstica e relacionamento abusivo.
4 – O silêncio
O que vem depois do final. As vozes apagadas. O não ser. A não existência.
5 – Ainda existe o futuro
A luta continua. Neste vídeo estão declarações que nos instigam a mover em direção ao futuro. Ainda há
esperança.
Programe-se
O quê: lançamento da mostra Da Dor à Luta: Histórias de Mulheres Sobreviventes da Violência (exibição de
vídeos-arte seguida de roda de conversa)
Quando: 10 de novembro, a partir das 19h
Onde: Fundação Cultural Badesc (R. Visconde de Ouro Preto, 216 – Centro, Florianópolis)
Entrada: gratuita